Além de ser reconhecido como conferencista e investigador no ámbito académico, durante a sua trajetória profissional assumiu variados e crescentes cargos, desde a prestação de serviços até à consultoria estratégica. Conhecedor da importancia da difusão internacional e do reconhecimento profissional do Facility Management, Martínez fala-nos do presente e sobretudo do futuro desta disciplina. Os desafios que enfrenta o sector, os avanços e o papel de Espanha, são alguns dos temas abordados durante esta entrevista.


1. Como vê a evolução do Facility Management em Espanha, nos últimos anos? Como nos vê relativamente ao desenvolvimento que este tema tem noutros países como Holanda, Reino Unido?

Bom, realmente creio que são duas questões na mesma pregunta. Em Espanha, a evolução de FM segue com uma curva crescente.  O aumento de associados profissionais na associação espanhola e o crescimento do número de projetos  suportam esta afirmação. Mas, ainda assim, continuamos longe dos países que mencionou,  que são o berço dos FM. Para usar o mesmo critério, digo-lhe que em Espanha somos cerca de 800 sócios, enquanto na Inglaterra superam os 18.000 e na Holanda os 7.000. Se comparar os dados, tendo em conta as diferenças populacionais dos países, pode fazer uma ideia de onde estamos e o que nos resta.

 

2. Que diferenças existem entre os modelos de FM de Espanha e do resto dos países? Quais são os nossos principais desafios? 

Eu creio que uma das primeiras diferenças é que em Espanha, em poucas ocasiões, se podem chamar realmente modelos de FM. São modelos em que se integram uma série de serviços num fornecedor único, onde se pretende obter o melhor preço.
Os modelos europeus, sobretudo os anglo-saxões e nórdicos, que são os que mais conheço, o que procuram é um parceiro, um partner e para eles isso é a chave. É importante conhecer esse companheiro de viagem, conhecer as propostas que lhes vai oferecer e por último, falar de preço.
Em Espanha, desde o primeiro momento, procura-se poupar custos sem importar se realmente se trabalha com modelos de FM ou não. Um dos prinicipais desafios é entender o que realmente é o FM, mas será difícil até que tenhamos uma base potente. Nos países que menciono – Suécia, Finlândia ou Inglaterra, entre outros – existe formação académica em Facility Management desde há mais de quinze anos e isso é uma vantagem, implica um enraizamento na sociedade e no tecido empresarial difícil de igualar.

 

3. De que volume de operações podemos falar no que respeita a contratos de FM globais na Europa?

Não temos números actualizados da Europa, mas posso partilhar os dados de Espanha de 2016, que temos do observatório de FMHOUSE.
Tendo em conta modelos de FM baseados em contratos com níveis de serviço, de empresas locais ou estrangeiras, não superam os 850 M€. E este valor reduz se só considerarmos contratos onde se integram mais de 3 serviços e em todo o território. Se comparar isto com um pontencial ligieramente superior ao do mercado de 4.200 milhões de euros, tem uma ideia do caminho que se pode percorrer aí.
O que existe é uma tendência clara por parte das multinacionais para melhorar os seus modelos de FM e integrar competências que antes estavam mais repartidas. Acabam de se publicar as duas primeiras normas internacionais de FM e já estamos a trabalhar noutras duas, uma das quais será certificável, e de alto nível, como sucedeu com a norma de gestão de activos.

 

4. Em Espanha fala-se de FM e de FS, diferenciando-se entre o operador de serviços (FS) e o gestor de instalações (FM)? Em que situação se encontra cada um deles e como confluem para conseguir uma melhor relação qualidade-preço?

Parece-me uma boa pergunta, notando-se que a ACCIONA tem as coisas claras. A verdade é que é importante diferenciar o que se procura contratar: a prestação dos serviços, a tomada de decisão que acompanha a satisfação dessas necessidades, ou ambas à vez. Em qualquer dos três casos, falaríamos de contratos que se podem vincular com o FM, a diferença estaria no alcance dos mesmos. A mera provisão de serviços seria o FS (Facilities Services), a tomada de decisões seria MS (Managed Services) e a combinação dos mesmos FM (Facility Management). Sobre o potencial de poupança, creio sinceramente que qualquer das três modalidades, sempre que sejam contratos com um formato de FM, vão supor uma poupança para o cliente. Embora seja verdade que o terceiro tipo será o que mais beneficios aporta, também será o que requer maior implicação e esforço inicial por parte do cliente.

 

5. Considera que as barreiras laborais impedem uma maior eficiência e qualidade dos serviços ao impedir a “polifuncionalidade” dos empregados?

Considero que sim. Embora surpreso digo que, sendo Espanha um país onde se aceita a flexibilidade quase de contorsionista na hora de interpretar um contrato, quando se trata de satisfazer as necessidades do cliente, pomos os óculos da legislação e convertemo-nos num tronco inflexível.
É curioso observar como, em média, mais de 30% do que se coloca num contrato não se faz e se substituem por outros 30% de actividades que não estão descritas em nenhum sítio.
Mas sim, antes de iniciar as operações, se alguém considera que existe uma tarefa pedida que não está nas competências laborais dos trabalhadores, a negociação pára.

 

6. Considera que os fornecedores de serviços de Facility Services ou de Facility Management em Espanha, contam com profissionais bem formados para gerir contratos complexos de FM para grandes empresas?

Embora a resposta é que não há muitos (a verdade é que os há), este não é um problema porque não há contratos muito complexos de FM em Espanha. O que existem são contratos complexos sem necessidade de sê-lo.
Vejo com bastante otimismo como o mercado se está formando, tanto por parte do cliente como por parte do fornecedor, para se preparar, cada um de seu lado, para iniciarem bons jogos de FM. Não é um tema de quem ganha ou perde, mas sim de poder estabelecer e aceitar as regras do jogo e divertir-se, que será o que realmente aporta benefício para ambas as partes.

 

7. Como é que os clientes valorizam  o preço dos serviços de FM/FS? Que outros aspectos valorizam para eleger o seu pretador de serviços?

O preço é um fator a avaliar na transição de modelos de FM perante modelos tradicionais. O inconveniente é que nem sempre se está consciente do investimento a realizar em recursos, e que essa redução de preço se gerará com o tempo e por outros fatores externos aos fornecedores, que são os responsáveis por prestar o serviço.
Quando iniciamos um processo de negociação, pedimos ao cliente que enumere por ordem de interesse os aspectos que mais vai valorizar na hora de elegir o prestador final. À parte do preço, que geralmente aparece no topo da lista, podemos ter a capacidade de retribuição em função do que se recebe, maior controlo e conhecimento do que se passa, melhor acesso à informação, incluindo transferir o risco de assegurar uma melhoria contínua das operações ou da própria tomada de decisões.

 

8. Está-se a apostar no Facility Management no sector público? Para que este serviço se consolide, crê existir a necessidade de alterar a cultura, tanto no sector público como no privado?

O sector público é um dos maiores assuntos pendentes que temos em Espanha. Perguntava-me antes, pela diferença com mercados mais maduros e posso dar-lhe um exemplo. Em Inglaterra e na Holanda, mais de 85 por cento dos edificios têm contratos de FM e são geridos por managers profissionais. Em Espanha, posso contar pelos dedos das mãos os que existem.
A alteração de cultura é mais importante no sector público, onde devem ser aplicados conceitos de produtividade e eficiência e começar a deixar de lado o “sempre se fez assim”. O sector privado está mais consciencializado, mas necessita entender bem que o que é o FM e deixar de vê-lo como uma mera externalização de serviços.

 

9. O que pode acrescentar o uso de novas tecnologias como modelos BIM e realidade virtual aumentada, no Facility Management?

Trata-se de duas orientações distintas de aplicar a tecnologia e cada uma terá impactos diferentes.

Os modelos BIM estão a ajudar a conseguir melhores projetos e a poder visualizar e inclusivé a planificar as construções de forma mais realista. Além disso, vai permitir trabalhar com modelos onde se podem aplicar mudanças e realizar propostas prévias à fase de implementação. Creio que a contribuição de BIM será válida para os responsáveis de projeto corporativos, parte do alcance de FM, sempre que compense a dedicação e o projeto.

Os assuntos de realidade aumentada ou virtual também têm estado presentes nos projetos, mas são uma parte essencial de muitas das áreas de FM. Desde assistentes virtuais que proporcionam informação e passeios, multi-conferências interactivas, onde os ocupantes compartilham a mesma sala, se movem e interactuam, até cursos sobre como mantero u mudar de equipamentos e/ou máquinas, como o apresentado pela ACCIONA no ano passado. Uma experiência incrível , com o simulador de moinho de vento. Creio que este campo permitirá saber mais sobre os ocupantes, interactuar com eles, inclusivé adiantar-se às suas necesidades quando se combine com dispositivos Wireless, que cada vez estão mais implementados.

in Acciona

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